segunda-feira, 6 de março de 2017

Capítulo 7




      Naquela noite Kar dormiu como o de sempre, mal. Sempre dormia mal, sempre comia mal, sempre ia no banheiro mal (ou era demais ou era de menos). Há muito tempo que havia se habituado a esta rotina, na Noite pouco tempo tinha para descansar, comer, ou qualquer coisa, estava sempre rastejando, procurando comida, armazenando combustível de sua lanterna. Quando saíra do Cosmos, anos antes, levava quilos e quilos de combustível a gás em suas costas, todo dia ia dormir pensando que eles explodiriam bem ali, nas suas costas, nos primeiros, dormia pensando que iria ser atacado, destroçado, devorado, mutilado, torturado... Adquiriu insônia, ficou paranóico e a frustração não ajudava, como eu mesmo disse no início, ele só havia chegado lá dias antes, mas já saíra por anos, por esse tempo vagou quase que aleatoriamente, dando voltas, mas não era burro, começou a desenhar seus mapas, começou a criar seus sistemas de identificação, nunca ficou perdido por absoluto um dia sequer, mas isso não quer dizer que sabia onde as outras coisas estavam. Vagando por uma planície e daí caíndo de cabeça para baixo, escalando uma montanha e batendo de cabeça com o teto, arranhões por onde jorraram sangue, infeçcões por onde o pûs escorrreu, tropeços que quebravam seus, ossos, seus velhos ossos, agora empoeirados e desgastados por ele. Sua língua já exaurida de xingamentos que pronunciava contra si por ter ido a aquele lugar. Mas naquela Noite não era a paranóia, o medo ou a frustração, que o mantinham acorado, era júbilo, pois o trabalho de sua e de outras vidas iria se completar. Sonhou com essa vitória, agora tão próxima, sonhou em retornar para sua terra natal com os projetos e a vitória em suas mãos sonhou então com uma grande imensidão cinza e então percebeu que não era sonho, mas sim o teto, estava acordado.
     Levantou-se e viu que os outros dois ainda estavam dormindo, então pegou algumas fatias de pão, outra de fruta e foi ao banheiro de seu andar. Não era nuito bom, pelo contrário era péssimo, cheirava mal e era estranha e pertubadoramente esverdeado. (a partir daqui, só leia se tiver curiosidade sobre a fisiologia dos boracs) Num canto, estavam as latrinas, muito diferentes das conhecidas pelo leitor, uma vez que fazem suas “necessidades” vômitando seria muito incômodo utilizar as latrinas normais, então ele utilizam uma versão mais longa e alta, onde eles simplesmente colocam a cabeça no topo e os dejetos escorrem até chegar a tubulação... Desculpe por colocar este parágrafo aparentemente inútil, mas serve como resposta a qualquer resposta a qualquer pergunta da ordem fisiológica que você, bem provavelmente, terá.
     Lavadas a boca e mãos, desce para a charutaria, onde iria recomeçar suas buscas por exploradores quando os viu, Joh, Nyaan, San, Lasog e mais um quinto que ele não conhecia, todos na mesma mesa. Joh era um tipo mais parrudo de borac, com chifres e estatura baixa, mas era forte, tinha um ar de seriedade, era de um verde escuro e usava uma camisa amarelada esfarrapada e calças velhas cinzas e largas: “De fato, são roupas para o tipo de calor de Gaul... Gente do deserto.” pensava Kar enquanto se aproximava reparando neles mais atentamente que na noite anterior. Lasog, Nyan e San eram mais magros e um pouco mais altos, seus chifres eram curtos e como topo plano, como o raspado que os militares usam, suas roupas eram similares a de Joh, a exceção de que eram um pouco menos vistosas e mais sujas: “definitivamente são gauleses” pensou ele enquanto reparava no pequeno grupo. O desconhecido, pelo contrário, parecia vir de Riacho Negro, usava roupas menos largas, uma camiseta verde, calças de algodão e seus chifres eram pequenos, era um pouco jovem e Kar o achou estranho:
 --Senhor Kar.--disse Joh
 --Senhor Joh.... Quem é esse seu amigo?....--disse ele um tanto desconfiado
 --Este é Lor... Lor, este é Kar
 --Senhor Kar--apertaram as mãos
 --Então... Vocês aceitaram?
 --Sim....
 --Posso saber o motivo? Para ter certeza...
 --Se acha capaz de sondar o espírito aleio?
 --Talvez... Não custa tentar...
 --.....Falta de opcão....
 --Falta de serviço?....
 --...É...
 --E você Lor? Posso saber porque está aqui?
 --Amigo ouvi os senhores falando ontem... Principalmente a parte dos mil e trezentos sacou.... Quando vi que havia o risco deles declinarem pensei que haveria uma chance para mim me dar bem...--seu jeito de falar era estereótipicamente ode um riacho-negrinho como as roupas indicavam
 --Por acaso o senhor tem alguma ideia do que planejamos?
 --Por mil e trezentos eu iria ao coração da Noite com vocês!
 --Que bom ouvir isso!-- riu
        Kar então explicou a situação e o plano para ele:
 --Olha.... Quando eu falei aquilo cara era apenas exagero.... Isso é muito problemático sacou?... Não vai dar não mano
 --Espere! Um a mais vai ser de muita serventia! Quanto mais forem mais seguros cada um de nós estaremos! As chances são de que pelo menos dois de nós morramos nessa viagem! Com um a mais as chances de dar tudo certo aumentão!
 --Esperar um pourco!--interrompeu Lasog seu sotaque estava melhorando mas ainda estava muito carregado-- Você nãor falou nada disso arntes conosco!
 --Vocês sabiam que eu estava mentindo!
 --....Tudor brem isso ér verdade
 --Desculpe senhor Kar, mas isso é perigoso para caraca!...--o jeito de falar entregava mais do que nada que ele vinha de Riacho Negro--...Não são só os monstros... Há também a questão dos Lordes!
 --Dos Lordes?
 --Claro que dos Lordes! É a palavra deles que iremos quebrar!
 -- Por favor! Entenda! A Ordem é só uma instituição! Não é problema!
         Os olhos de Lor pareceram um pouco irritados com aquela afirmação, mas ele se conteve, não era a primeira vez que vira alguém olhando assim do jeito que ele falava da Ordem:
 --Como assim “Apenas uma instituição”?
 --Olha... Eu sei que você está preoucupado com o que os Lordes podem vir a fazer com você no pós-vida... Eu também estou! Eu sei que serenos julgados! Mas pense! Não há nenhuma proibição no Livro dos Lordes diretamente sobre isso! Ele mesmo foi escrito muito tempo antes da própria Ordem existir!
 --Está sugerindo que a Ordem está mentindo quanto a proibição?
 --...Se eu estiver isso atrapalharia você vir conosco?
 --.....Cê disse mil e trezentos não é?
 --Exato.
 --...Posso saber como pretendem se virar no meio da escuridão? Aquilo é um breu amigo! E ainda há o problema da Ordem em si!
 --Eu... Nós temos um plano....
 --E qual seria?
 --Só posso dizer se você concordar em participar de nossa empreitada.
       Lor parou por alguns instantes e pensou. Passado algum tempo respondeu:
 --...Ok...
       Kar irrompeu num júbilo espetacular. Tinha agora tudo e todos de que precisava a sua disposição e finalmente seus anos e anos de trabalho iriam ser recompensados e com toda essa alegria dentro de si respondeu:
 --Muito bom! Vou falar com meus sócios.
      Se levantou e deixou o grupo conversando, quando saíu da charutaria pareciam estar dialogando sobre a situação política complicada que Riacho Negro se encontrava, com a Ordem ao sul e Cidade de Pedra ao norte uma vez que o país fora montado como um mero estado tampão entre os dois.
      Irrompeu escadas acima e chegou ao quarto vendo que Bou e Ox já estavam acordados. Tropeçou em rofles largados no chão e então começou a falar:
 --Conseguimos! Podemos partir amanhã!
 --O que?--disse Ox
 --Os caras de ontem? Lembram-se deles? Então! Eles aceitaram nossa oferta! Acho que o melhor é descermos e conversarmos os detalhes com eles!
 --Isso é ótimo!--disse Ox-- Agiliza muito as coisas!
 --Não!--disse Bouc-- Temos que encontrar outros!
 --O...--Kar ficou parado tentando compreender, ou pelo menos assimilar, o que acabara de ouvir--....O que?
 --São gauleses não são? Então não prestam! Escolha outros, vai ser fácil...
        Kar continuava um pouco atordoado, com tantas coisas e vontades vindo a sua cabeça que ele mesmo nem sabia qual analizar primeiro:
 --Posso saber o por que?
 --Vão nos matar e pegar nosso dinheiro! É isso que vão fazer isso sim!
 --E posso saber como chegou a essa dedução?
 --São gauleses! Eles...
          De súbito Kar entendeu o que se passava e sua mente se clareou sendo que toda a bagunça foi substituída por um único pensamento:
 --Bouc..--disse Ox que ja enxergara na face de Kar algo que Bouc parecia ser incapaz de ver--... Deixa disso cara! Ja conversamos! Eu também lutei contra os gauleses mas eles só...
 -- “Eles só” nada! Você teve o luxo de lutar na infantaria!--aquilo ofendeu Ox-- Eu tive que passar o inferno naquele maldito cruzador! Cercado de máquinas a centenas de graus sofrendo o bombardeinoesado daquele babacas!
 --Bouc, eu...--disse então Kar antes de ser interrompido por Bouc
 -- E você nem tem o direito de falar nada!! Você abandonou seu país quando ele mais precisava! Nós sabemos que você também é de Cidade de Pedra! Seu sotaque te entregou desde o iní...
     Não pode terminar a frase pois o pensamento aqe passava na mente de Kar naquele momento era de um homicida, mas não chegou a tanto. Kar simplesmente lhe aplicou um soco na cara seguido de um chute na boca do estômago deixando-o de joelhos. Pegou-o então pela cabeça e disse de uma maneira pavorosamente calma e indiscreta:
 --Eu venho trabalhando a anos! Anos! Para entender as coisas por que eu sou um físico, e este é o meu trabalho! Agora, eu tenho a maior chance de toda a minha vida como pesquisador e só preciso manter tudo como está! Logo, você tem duas opções, uma vez que você já sabe demais sobre o plano para eu te deixar ir: um, você vem conosco e não arruma nenhum tumulto quanto a esta questão; dois, eu te enterro em meio a Noite! Qual vai ser?
      Considerando que ainda estamos no início da estória, é mais que óbvio qual Bouc escolheu. Prosseguiram então os três, para a charutaria onde encotraram o grupo falando sobre tatuagens esquisitas que haviam visto naquele lugar. Puseram-se então a conversar, inicialmente falaram sobre os planos e itinerários da missão, depois passaram a falar sobre alguns detalhes da viagem e o que fazer em caso de emergência, foi então que Nyan aludiu a certo evento engraçado que ocorrera em seus tempos de colégio relacionados a rifles, depois Lor aludiu a um evento similar só que relacionado a uma determinada palavra que escrevera na lousa certa vez, por fim, antes que Kar conseguisse restaurar a ordem do que ocorria, Bouc tomou conta da conversação e antes que ele sequer acendesse um charuto, já estavam conversando sobre regras de futebol, cuecas desbotadas e os terríveis erros estratégicos de Riacho Negro na guerra contra Cidade de Pedra. Sem outra escolha, Kar continuou fumando seu charuto tranquilamente e ouvindo a conversa, quando sentiu que já era câncer demais por um dia (não ignorava isso, só não se importava porque achava que seu vício era mais importante que sua saúde, sabia que um dia teria que parar, mas até lá), Levantou-se discretamente e foi resolver seus próprios assuntos.
       Saindo da charutaria, comprou algum material e começou a trabalhar em alguns designs que havia pensado da penúltima vez que encontrou um dorac. Foi mais rápido do que pensou então passou o restante do dia deitado descansando e aproveitando, sabia que aquela seria a última vez, em semanas, que teria o prazer de deirar calmamente, dormir direito, sentir o sol em sua pele... Se entediou e ficou lendo na janela do apartamento até os outros dois voltarem já completamente altos, o grupo aparentemenre havia visitado uma adega de citra de niz antes de voltar, mas não precisou olhar para eles pois o cheiro os antecedeu em muito.
       Enquanto tudo isso se passava, Bahr persistia tentando lidar com a situação:
 --Então?.... Alguma coisa quanto a Gaul?
 --O embaixador Rzar de Gaul já conferiu com nossos informantes senhor, nada! Não há nenhuma evidência de que alguém de Gaul e tenha conseguido passar por nossas barreiras--respondeu o Primeiro Secretário, era um tipo tanto esguio, alto e calmo, ligeiramente simpático
 --.....Bem, só sobra Cidade de Pedra então!
 --Na verdade senhor, ainda não tivemos nenhuma informação sobre Euler...
 --Euler é uma ilha de monges! Não nos incomodam... O que os informantes de Cidade de Pedra já conseguiram? Alguém saiu do país ilegalmente?
 --Muitos casos senhor... Mas nada relacionado conosco. A maior parte eram imigrantes fugindo para Riacho Negro ou para Euler... Para cá, nenhum, os que foram para Gaul estava  de viajem...
 --Tem certeza disso?
 --Senhor, checamos os registros da polícia dos últimos cinco anos de todos os países!
 --Com exceção de Cidade de Pedra!... Eles se movimentam para a guerra...
 --Senhor, posso saber como chegou a esta conclusão?
 --Simples, eles abaixaram os juros.
     Estavam eles no setor de contabilidades e burocracia da Ordem, mais especificamente, no depósito de registros de viajem de outros países, eles conseguiam isso através de seus “informantes” nos departamentos de imigração de cada nação. Era uma salão gigantesco, lotado em todos os centímetros por grandes armários de metal com papéis alaranjados e velhos contendo todo o tipo de informação. Além dos dois, havia quase que todos os burocratas da instituição, o Bahr estava sentado numa cadeira, no chão, iam centenas de quilos de papel:
 --Senhor...--disse ele um pouco desconfiado--... Nenhum de nossos informantes em nenhun país confirmaram qualquer missão ou expedição a Noite... E eu não consigo entender qual é a relação entre a taxa de juros e uma guerra...
 --Bem, para as guerras o Estado precisa de dinheiro não precisa?
 --Sim senhor.
 --E Cidade de Pedra tem dinheiro?
 --Não senhor.
 --Então eles vão ter que fazer o que?
 --Pegar dinheiro emprestado senhor.
 --Agora vê a relação?
 --Mas como tem certeza que é para uma guerra senhor?--dizia ele com um tom sarcástico, estava entedian o de tudo aquilo-- Podem estar simplesmente querendo incentivar sua economia ou....
 --Por que....--não gostava de ser contrariado--...a “Armamentos de Pedra e Cia” acabou de publicar no jornal uma expectativa de lucro imensa para esse ano, dito isto, nossos informantes de departamentos de estado de Riacho Negro, Gaul, Euler e mesmo Porto de Pedra não relataram a compra de nenhuma grande leva de armas importadas este ano, então....
 --Desculpe senhor...--estava com raiva, mas engoliu
 --Pare com isso! Quero resultados! Marechal? Onde está o general?
 --No banheiro
 --No?!....Ele ja está lá a meia hora!
      Levantou-se então e começou a rumar ao banheiro, mas tropeçou na própria capa, depois rumou normalmente até o banheiro, cinco minutos depois, trazia o marechal devolta puxando-o pelos chifres enquanto este ainda estava desorientado pelo que acabara de ocorrer:
 --Então? Marechal Dru!? Algum resultado?
 --Senhor, os navios não encontraram nada, e o dirigível também não...
 --Puxa?! Não encontraram nada? É melhor então assumirmos que os guardas ficaram malucos e que nada aconteceu!... E agora Marechal?! O que fazemos hã!?
 --Eu já estou lidando com isso s...senhor! Me encontrei com o Marechal da Força Aérea e...
 --Espere um pouco! Vocês dois se encontraram sozinhos?
 --Sim.
 --Ah!... Viu Primeiro Secretário! Era esse o barulho de coisas quebrando que agente ouviu ontem...
 --Isso explica o olho roxo do marechal hoje de manhã...
 --Bem, marechal, continue!
 --Bem....senhor.... nós nos organizamos e eu enviei alguns dos meus efetivia especializados nesse tipo de coisa para lá...
 --E?....
 --Até agora nada senhor... Estavam seguindo a trilha deles pela cidade baseados em algumas anotações dos saqueadores, mas quando pensavam que iam encontrá-los a pista esfriou. Mas já dei um jeito, só precisamos aguardar novas informações...
 --Ótimo.... Agora volte para o seu posto, para o seu posto!, não para o banheiro, não quero mais de desperdício de tempo! E fique aguardando!--o marechal saiu as pressas-- Primeiro Secretário, e nossas forças em terra? Como vão os exercícios?
 --Vão bem senhor... Mas ja viraram matéria de jornal em Riacho Negro, estão achando que...
 --Isso não importa! Sempre declaramos guerra formalmente antes de atacar! Isso é só paranóia pública!.... Ok, vamos revisar nossos itinerários para esse mês enquanto eles terminam a última revisão, então estão liberados!
 --Bem senhor... A começar pela sua reunião com o novo “Primeiro Ministro” de Cidade de Pedra no fórum internacional que vai ter em Planície Amarela...
 --Sim, sim, este é importante... Meus discursos já estão prontos?
 --Só falta um senhor!
 --Ótimo, mas deixe que o discurso principal fica comigo! Vou improvisar este ano! Ou pelo menos é o que os outros líderes vão pensar que eu fiz! Vão ficar impressionados! E o que mais ainda para esse mês?
 --Tem a visita anual a Vale Verde, para a cerimônia de verão. Já estamos fazendo verificações de segurança...
 --Alguém querendo me matar?
 --Duas células foram encontradas senhor e...
 --Primeiro Secretário?
       Olhando para trás, o Primeiro Secretário (não se preoucupe com o nome deles pois nem eles o fazem, eles preferem os títulos e isso acabou virando uma tradição), viu o segundo, que chegava para o seu turno, estavam se revezando com o Mestre desde que aquela situação iniciara. Largou o que estava fazendo e voltou para sua mesa na sala dos secretários, antes de ir, pediu uma sopa pelo sistema se comunicação por tubo que ligava quase todas as salas dos membros mais importantes com a cozinha. Quando chegou lá quinze minutos depois, o prédio era realmente muito grande, Kzar, o entregador, estava com a sopa na mão. Ele pegou a sopa e agradeceu com um aperto de mão.
      Horas se passaram antes que seu turno acabasse, mas quando acabou Kzar, um borac um pouco gorducho e baixo, saiu tranquilamente pelas imensas portas da sede e cruzou a cidade a pé. Primeiramente atravessou o centro, as ruas do centro eram todas repletas por casas e ruas antigas, com velhas casas e prédios construídos no estilo gótico, com ruas pavimentadas e organizadas com a atmosfera repleta do som de carroças de comida e transporte, puxadas por boracs é claro, e do cheiro de pães e doces das confeitarias. Mas enquanto atravessava as ruas, as coisas foram mudando, as casas góticas foram substituídas por prédios de apartamentos de média qualidade, depois pelos distritos industriais e por fim vieram os bairros dos “azarados”, boracs que faliram em geral, regiões lotadas de mutilados em guerra, alcólatras, investidores endividados e muitos, muitos tipos de radicais políticos. No meio dessas ruas que cheiram a vômito feitas de casas de pau-a-pique estava um borac diferente, não nas roupas, estas eram velhas e esfarrapadas como do pessoal local, porêm estava mais calmo do que o resto, segurando uma panela de aço como forma de pedir esmola. Kzar jogou-lhe algumas notas de dois e foi para seu bairro.
       Afundando seus pés na lama, o borac seguiu calmamente por entre as ruas periféricas até que começou a chover, temendo o pior, cortou caminho pelo distrito industrial até chegar numa estação de trem onde encontrou um carregador, chamado Tru, usando o típico uniforme cinza com botões e chapéu baixo das ferrovias de Elsinor. Eles se esbarraram e então começaram a conversar baixinho:
 --Já pegou?--disse o mendigo
 --Já.... Peguei no seu bolso.
      Tru havia deixado cair uma das malas    “acidentalmente” e enquanto catava conversavam, parou apenas por um instante para olhar o que estava escrito:
 -- ”Vai improvisar no discurso”?Só isso? Sério?
 --Não é culpa minha! Nem sou que consigo a informação!
 --Mais baixo... Ok, tudo bem, mas não sei se isso vai dar muito dinheiro... Talvez o cara de Gaul, os dodge de Gaul é muito orgulhosos e gosta de ter este tipo de informação.
 --Eu não seu do que você está falando.... Não li... Mas tudo bem. Agora embarque! Senão não vamos ter nada para dar para a Ordem semana que vem!
     E assim Tu embarcou, estes quatro indivíduos sem relevância eram parte da chamada “Rede de Informações” que a maior parte dos líderes mundiais do Cosmos gostam de usar quando seus próprios informantes falham em oferecer mais do que é possível. Raramente oferecem alguma coisa útil, mas na paranóia que o Cosmos estava vivendo até mesmo as informações inúteis como aquela estavam recebendo um bom preço. E ninguém é entendia desta paranóia melhor do que o próprio Bahr:
 --Estão se preparando, eu sei!
     Não totalmente sem fundamento, já algum tempo calculava  que a Cidade de Pedra se preparava para a guerra o único mistério era:
 --Por que? Por que se preparar para a guerra? As secas já foram embora! Nenhum furacão os atingiu! Deviam estar dando glória aos Lordes que a quase quatro anos que o país deles não é atingido por nenhum desastre! Nem nós conseguimos ficar este tempo sem que uma maldita nevasca pare nossas ferrovias!
      Aquela noite era ja a terceira noite que dormia sem nenhuma boa novidade sobre a crise causada pelos boracs que haviam retornado da noite e por isto dormia ainda pior do que na noite anterior.
      Não era o único, Kar também sofria para dormir enormemente, não por estresse, mas por estresse, mas por ansiedade. Estava no teto da pensão, admirando um pouco as estrelas, abaixo de si, centenas se moviam e era possível ouvir o fraco som de conversas e risadas, o que mais se destacava de todos aqueles sons era onsom de um violão tocado ao longe quando viu a Lua emergir por detrás de uma nuvem. Não era uma Lua normal, estava cercada lor uma grande auréolá esbranquiçada, quase que num círculo perfeito, e brilhava grandemente. Era linda. Vendo aquilo, pensou:
 --Vou ter que acordá-los mais cedo!
       Uma hora depois estava no apartamento, com um balde de água do mar na mão e os outros dois a menos de um metro de distância. Uma vez deserpertado de maneira tão razoável Ox falou:
 --Mas que porcaria é essa?--sacudia as mãos tentando secá-las embora já sentisse as primeiras dores de cabeça da ressaca que teria pelo resto do dia.
 --Vamos acordem! Temos que descarregar tudo isso agora! Levar pro barco agora!
 --Barco!? Mas...
 --Eu aluguei um para nos levar! A viagem vai durar uns dois dias...
 --Mas....--caiu no chão devido a dor de cabeça e vomitou
 --E depois reclamam dos meus cigarros né? Bem parece que seu fígado também não deve estar indo bem!
 --Por que só acordou a mim? E o Bouc!?
 --Eu joguei água nele também, mas parece não ser o suficiente.--saiu do quarto e pegou o outro balde que ele trouxe para caso aquilo ocorresse
 --O que? Onde?--e então Bouc vomitou
 --Mas que que deu em você Kar?
 --A lua está com uma auréola
 --...... MAS QUE PORCARiA ISTO TEM HAVER?
 --Significa que há muita umidade no ar e que vai cair uma chuva. O que somado aos ventos quentes vindos de Riacho Negro podem provavelmente virar um furacão.
 --Furacão? Ora e o que uns ventinhos podem fazer?
 --Já viu furacão?
 --Não.
 --Muitos se quiser saber... Agora vamos! Temos que por tudo isso no barco que eu aluguei enquanto dormiam! Ox, você não, você está vomitando demais, vá e encontre os caras que contratamos! Devem estar jogados pelas ruas ou algo do gênero!
 --Mas como vou fazer isso se estou vomitando?
      Kar estendeu então o balde para ele e ele entendeu o que aquilo significava. Ele saiu e foi a procura dos outros enquanto Bouc e Kar carregavam o mateiral do apartamento deles para o barco.
     Uma hora depois deles mesmos terem terminado apareceu Ox com o resto, embarcaram no navio. Estavam quase saíndo quando de súbito apareceu o dono da estalagem correndo como um louco em direção ao cais e lembraram que não o haviam pago:
 --Voltem aqui seus babacas, retaradados, idiotas!.. Vocês são tudo um bando de caloteiros! Seus bosti...
     Antes que terminasse Kar sacou o dinheiro e o pagou:
 --Muito obrigado! Vão com a graças dos Lordes hein? Voltem sempre!
     E assim partiram. Kar correu para a popa e ficou a observar o cais e a cidade como um todo desaparecer ao longe enquanto as nuvens começavam a girar cada vez mais rapidamente ao fundo criandononque em poucas horas seria o olho do furacão, tudo isso ao som de vômitos e resmungos de terem sido acordsdos cedo demais fazia Kar se sentir grandemente realizado enquanto paetia para encontrar os frutos de seus anos de trabalho.