segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Capítulo 2

      Já fazia mais de uma semana desde que os quatro boracs se juntaram na caça de relíquias de valor e já dava frutos, mais de cem livros escavados das profundezas da biblioteca e selecionados dentre montanhas de papel amarelo e embolorado, repesentadando dinheiro suficiente para que nenhum deles não tivesse que trabalhar por um bom tempo. Enquanto vasculhavam a imensidão do edifício Kar acabou se tornando amigo dos outros três, não um amigo íntimo, mas alguém em quem podiam confiar um pouco. Tudo corria como o planejado e poderiam voltar para casa em breve e continuarem com seus próprios planos quando chegou o décimo primeiro dia.
     Eram ainda 6:38 da noite e enquanto Bouc e Ox estavam devolta ao pequeno cômodo cinza descansando, Kar e Jak estavam num corredor mais remoto da biblioteca, tendo extrair as últimas gotas de vida de frágil vela de Kar antes de acenderem outra, Kar estava sentado no chão com as costas apoiadas numa das prateleiras enquanto Jak subia e descia uma escada pegando um livro por vez da última estante e trazendo para ele:
 --Posso perguntar uma coisa?--perguntou Jak
 --Você ja perguntou não é mesmo?--disse Kar enquanto analisava cuidadosamente um livro do que parecia ser um ensaio fotográfico velho sobre plantas locais
 --Como eles sabem sobre a noite?
 --Eles quem?
 --Os darocs! Como eles sabem distinguir entre noite e dia se aqui não tem luz?
 --Oh.... Isso é um resquício dos tempos em que havia luz aqui.
 -- Como assim um resquício?
 --Antes do Cair da Noite, havia aqui um país como outro qualquer, o que quer dizer que ele também tinha água, calor, dia e noite... Os darocs eram caçadores noturnos e isso era um instinto passado de geração para geração...
 --E como eles faziam isso? Eles ensinavam aos mais novos?
 --Não!... Não são tão inteligentes assim... Era passado geneticamente, como um mecanismo
 -- “Geneticamente”?
 --Eu sei... Eu sei... É um pouco difícil de entender... Mas deixa eu te explicar! Acontece que os darocs não se reproduzem como nós, eles não são simplesmente fabricados pelos Lordes nos Criadouros...--os boracs não tem gênero-- eles simplesmente “copulam” como um biólogo amigo meu me explicou e dali sai um novo daroc.
 --Eu não entendi.
 --Eu também não... Mas foram com essas palavras que ele me explicou.... Tem alguma coisa ligada a misturar características ou algo do tipo, mas pelo que eu entendi é mais ou menos assim: os        “machos” simplesmente carregam dentro de si uma multidão de pequenos parasitas que eles colocam dentro das “fêmeas” na primeira oportunidade, lá, os parasitas ficam sugando o corpo da      “fêmea” até estarem grandes o suficiente para caçarem por si mesmos, então eles saem de dentro delas e vão viver suas próprias vidas.
 -- Que nojo.... E como é que esse seu amigo descobriu tudo isso?
 --Isso eu não tive coragem de perguntar hehehe--disse ele rindo, foi então que Jak, até então no topo da escada, desceu  com um único livro na mão e disse:
 --Que palavra essa?
 --Qual palavra?
 --Essa!--disse Jak apontando para o livro que segurava no qual, em contraste com a capa dura preta, grandes letras douradas (típicas dos livros mais velhos) estampavam: “Atlas Unificado da República de Grinard”
      Kar ficou paralisado por alguns instantes diante daquele livro. Um livro onde estavam reunidos convenientemente infinitos mapas daquela sombria região, um livro onde informações tão valiosas quanto todo o ouro que se possa imaginar estavam, um livro que Jak arremessou três metros enquanro dizia: “Olha, se você tambêm não sabe, não precisa se envergonhar” ao que se seguiu um desesperado berro de Kar que saltou freneticamente em direção aquele aglomerado de páginas amareladas e velhas como um louco corre atrás de algo que...que...sei lá...que os loucos correm?...não importa! Chegando ao livro apenas olhou com um ódio incomensurável Jak e pôs-se a escanear freneticamente as páginas tão emboloradas que se desfaziam em suas mãos. Enquanto seus olhos percorriam cada frase, cada letra seu corpo estremecia com tal prazer que perdera o controle dos musculos e tremia como um idiota aos olhos de Jak que assistia tudo muito confuso. Jak não era um pensador, de fato a maior parte dos boracs não o são e tinha a tendência de terceirizar seus pensamentos através de amigos aonalgo do gênero, o que faxia com que, nessas situações, sempre se sentisse terrivelmente perdido sem saber extamente o que dizer. Foi então que notou que Kar havia congelado novamente, com seus olhos fixos em alho escrito em uma daquelas páginas velhas, um mapa aparentemente, ia perguntar o que era quando Kar ergueu sua cabeça de súbito e disse:
 -Vamos voltar! Já temos tudo de que precisamos!
 --Ok....
     Pegaram então a vela e atravessaram o vasto salão que eles acreditavam ser o salão principal da biblioteca, isso pois estavam tão entretidos em encontrar algo de valor que não tinham se dado ao trabalho de explorar o local propriamente falando, mas se o tivessem feito, teriam descoberto que a biblioteca era uma estrutura gigantesca, medindo 500 por 400 metros com dois jardins internos e diversos armazéns e áreas para fabricar livros, tendo sido decorada originalmente no estilo “art deco” maior parte da sua decoração jazia agora destruída ou escondida pelas sombras, só sendo possível lerceber que o prédio tinha um design retangular parecendo um enorme paralelepípedo com janelas enormes.
    Chegando no pequeno quarto cinza, Jak viu Bouc dormindo enquanto Ox aparentemente falava com uma das paredes:
 --Está falando com quem?
 --O que?... Ah... Comigo mesmo! Mas o que é que ele tem?
    Oi olhava fixamente para Kar que a essa altura, já tendo lido um pouco, parecia um lunático, com seus olhos esbugalhados e avermelhados e a boca aberta fazendo um som estranho enquanto ele mesmo corria em circulos pelo quarto:
 --Peguem ele!-- disse Ox desesperadamente
    Num só salto os trés atacaram e colocaram Kar no chão sem, é claro, diminuir em um só momento sequer sua alegria:
 --Acalme-se! Acalme-se!
     Levou mais alguns minutos para se acalmar definitivamente, por fim, ergueu a cabeça e disse:
 --Fechem a porta! Fechem a porta! Já são quase 8!
      Fecharam então a porta e pararam para ouvir Kar, que até então só sabia fazer cara louco. Ele expôs os livrobrevemente aos outros e depois, correu as páginas para uma página específica:
 --Lembra-se dos meus mapas? Que eu passei um eras produzindo? Esqueça! Olhe só isso!--e mostrou então um mapa pequeno do que um dia foi a nação de Grinard onde uma variedade de pontos de diferentes pareciam simbolizar uma variedade de coisas diferentes, com as mais diferentes cores.
 --Mas o que que é isso?--disse Vou que acabava de acordar
 --Isso é um mapa de infraestrutura nacional!
 --Ah?
 --Um mapa que diz onde estão as fontes de água, de petróleo, de ferro...
 --Já entendi sua excitação! Isso é um mapa do tesouro!--disse Bouc rindo incansavelmente-- Essa coisa pode nos levar para minas de ouro, de diamantes, de tudo que precisamos! Hahaha!
 --Na verdade não.--disse Kar voltando lentamente ao seu tom sarcástico e calmo normal--Tudo isso já foi pilhado eras atrás, amtes da Guerra... Mas ouro não se compara ao que esse mapa pode nos oferecer!
 --E o que seria?
      E com isso Kar colocou o dedo encima de um dos muitos pontinhos vermelhos (dentre uma variedade de pontos de outras cores) na página, provocando Ox a perguntar:
 -- Mas o que isso quer dizer?
 --Olhe aqui!-- e então colocou o indicador da outra mão sobre um pequeno quadro no canto da página com o título de “legendas” onde as palavras “Usina de Força” repousavam ao lado
 --Ainda não entendi!
 --Você já chegou em que parte da história deles?
 --Período Clássico Tardio!--respondeu ele se referindo a uma parte da história dos Grinard
 --Não te culpa por não saber o que é... Vocês conhecem a eletricidade não é?
 --Claro que sim! Em Riacho Negro as ruas a noite são todas iluminadas por lâmpadas elétricas!--respondeu Jak
 --Ótimo!... Bem acontece que a eletricidade, para nós, é algo recente, mas para os Grinard? Já era parte do cotidiano! Eles não usavam petróleo ou moinhos de vento como nós! Nem mesmo construíam essas represas gigantescas que a Cidade de Pedra está querendo erguer! Não!
 --Então o que eles usavam?
 --Isso, é a parte que não ensinam nas escolas!... Embora talvez já tenham ouvido falar...
 --Mas o que é?--disseram eles impacientes
 --O Coração do Sol!
 --O Co-Coração do Sol?!?--responderam eles maravilhados
 --Isso mesmo! Uma máquina capaz de aproveitar a mesma energia que o sol usa para aquecer o Cosmos! Basicamente, um pequeno Sol que eles usavam para gerar toda a energia de que precisavam!
 --Isso vale realmente mais do que qualquer coisa! Com uma dessas,... só uma!, poderíamos alimentar com energia todas as cidades! Todas as fábricas! Tudo!!-- a mesma euforia psicótica que tomara conta de Kar agora também começava tomar conta dos outros três quando o próprio interviu
--Eletricidade? Você pensa pequeno meu amigo! Pense bem! O poder de um sol! E nós aqui! Envoltos em escuridão! Pense! Pense só um pouco mais! Com a luz e o calor de uma dessas poderíamos iluminar essas terras mortas e lhes devolver a vida! Poderíamos reerguer toda essa nação! Todas as nações
 --Isso é papo de doido!
 --Mostre onde erro! Mostre-me meu erro!
       A euforia contagiava a todos, mesmo Bouc que tentava permanecer com seu ar de pseudoseriedade pseudosabedoria habituais se deixava levar pelas ideias de riqueza incomensurável que a criação de novos países poderia trazer:
 --Senhores!--disse Ox abandonando seu tom mais calmo anterior e tomando uma atitude mais séria-- Vamos nos acalmar! Pensem comigo! Não sei muito sobre mapas, mas sei que essa tal “usina de força” está muito longe do nosso alcance, não estou certo Kar?
 --Está... De fato, iriamos levar pelo menos...--fez uma breve conta com os dedos--...um mês para chegar lá.. Na melhor das hipóteses...
 --Então, eu achonque a melhor coisa a fazermos é voltar para os Cosmos e...
 --Está louco? E perder uma oportunidade dessas?--aludiu Bouc desesperadamente
 --Deixe-me falar! Por favor! A melhor coisa a fazermos é voltarmos para o Cosmos e irmos para Porto de Pedra! Lá reuniremos pessoal suficiente para uma missão dessas... E voltaremos
 --Faz sentido...--disse Kar--... Minha ração está quase no fim e apostp que a de vocês também.... Mas como financiar isso tudo?
 --Simplesmente! Vendemos os livros! São relíquias e valem uma fortuna! Não foi para isso que viemos aqui?
 --........É parece uma boa ideia.--Havia uma certa angustia naquelas palavras que não passaram desapercebidas por Ox mas passaram pelos outros dois
    
 --Bem, alguém discorda desse plano?... Ninguém? Ótimo!
     Nos momentos seguintes eles riram um pouco, deitaram-se com uma calma que há semanas não experimentavam e abriram uma garrafa de sitra niz (a dieta dos boracs é limitada a apenas três espécies de frutas e o niz é a mais popular) e relaram a rir.
    Enquanto as horas passavam, Bouc passou a roncar como uma broca e Jak, ja tendo bebido muita sitra, estava em algum estado intermediário entre o acordado e o sono, no qual nenhum pensamento passava de fato por sua cabeça enquanto Ox ficava recolhido ao seu canto. Kar tentava, sem sucesso, dormir, há mais de uma hora havia apagado a lanterna e tentava se acomodar o suficiente para tentar uma soneca, mas um constante fluxo de ideias e perguntas assolava sua mente. Imaginava tudo que poderia atingir com aquele poder, tudo que poderia ter, mas de tudo o que pensava o que mais lhe fascinava era todo o conhecimento que poderia enfim conseguir, depois de anos de luta, anos se arrastando pela escuridão da Noite, fugindo de animais terríveis, escapando por pouco da desnutrição e do frio, de ser soterrado pela neve, por ficar perdido no vazio, se lembrava de todas as vezes que Andando tranquilamente por uma planície e fora arremessado contra uma parede ou contra um teto por, sem saber, entrar num outro poço de gravidade, sem sequer notar, todo esse tempode sacrifício e, fim trazia frutos maiores do que tudo que imaginara ao longo de quarenta anos. Tudo isso passava por sua mente initerruptamente, como uma torrente, até que um som lhe interrompeu o pensamento.
     Ergueu a cabeça lenta e cautelosamente, para que a fonte do ruído (fosse quem fosse) não percebesse, e olhou ao seu redor, acabando com seus olhos sobre a porta, que parecia tremer. Como estava tentando dormir alguns instantes antes permanecia um pouco desacordado e não conseguia ouvir ou ver direito. Mexeu a cabeça um pouco, tentando aguçar um pouco seus sentidos e foi quando finalmente ouviu o som, o som lento e doloroso, o som irritante, frio e agonisante de algo que arranha uma porta de madeira pelo lado de fora, um som que petrificou o coração de Kar e fez um suor gélido escorrer por seu rosto. Sua inércia inicial foi então substituída por jm ânimo desesperado. Saltou de seu leito de perto da mesa para o outro lado do quarto já com o machado na mão (sempre dormia armado) e tentou acordar Ox:
 --Ox!
 --Uhm?! Que que é?
 --Nós... Já estava acordado?
 --....Sim
 --Ok, ok... É um og...
 --Um o que?
 --Um Og! Ele nos achou e deve está alertando o daroc!
 --Mas...
 --Acorde os outros e fica com as armas a mão... Vou pegar as nossas coisas
 --Mas ele não esta fazendo nenhum barulho!
 --Darocs tem excelente audição... Dessa maneira eles não NOS alertam que nos encontraram!... Agora vai logo!
     Em pânico, acordaram os outros, juntaram suas coisas, e se dirigiram para a janela. Kar então retirou o pano da janela e tirou o mais rápido possível uma das placas de vidro que constituíam a janela, uma placa de vidro grande e pesada e então se espremera , um após o outro pela peque a abertura até que todos estivessem no jardim in-terno. Quando o último passou, o barulho na porta cessou e pode-se ouvir o barulho do og correndo numa direção, enquanto os pesados passos do darocs se aproximavam do outro.
     Ofegantes, seguiram, em meio ao escuro, seguiram Kar por entre as plantas petrificadas do jardim e se aproximaram de uma porta que dava para um salão que nenhum deles havia estado antes:
 --Tomem cuidado!--disse Kar-- Eles são mais rápidos do que parecem e se nos ouvir...
 --Mas onde estamos?
 --Não sei... Mas a gravidade ainda é a mesma... Venham comigo.
     Subiram então por uma das paredes e chegaram até o teto, onde haveria menos obstáculos e continuaram até dar de cara com outra parede. Viraram então quarenta e cinco graus até chegarem a outra parede, avançaram então rente à esta até chegarem a parte superior de uma porta e avançaram por mais dois salões discretamente. Não podiam ver nada e se guiavam únicamente pelo que sentia com suas mãos, evitando fazer qualquer barulho e sentindo o coração vir a garganta ao sinal de qualquer coisa que ouvissem quando, viram uma bizarra luz vindo de cima de suas cabeças (ou de baixo dependendo da sua perspectiva). Uma luz vermelha, que vinha detrás de uma da estantes, ao som dos pesados e brutais passos da fera.
      Darocs não são criaturas bonitas de se ver, seu corpo de formato esticado similar ao de um verme gigantesco é encouraçado e dotado de quatro patas poderosas e largas e um rabo capaz de derrubar uma árvore, a tudo isso, se somava uma gigantesca boca, tão grande, que cobria toda a região de seu rosto com uma profusão de dentes ligados em mandíbulas rotatórias como um gigantesco debulhador de milho, contendo em seu centro uma chama vermelha ardente, a qual ele poderia simplesmente disparar a metros de distância invertendo a direção de suas mandíbulas (que funcionavam tanto como lâmina e como hélice). Enquanto se movia, projetava sua luz por toda a região para que se dirigia enquanto tentava se guiar através de seus ouvidos, projentando largas e trêmulas sombras que se moviam pelo cômodo, nas quais eles desesperadamente tentavam se manter. O daroc já estava logo acima deles parecia que passaria por eles quando de subito parou e todos ouviram o grito de Kar:
 --Separem-se agora!!!
       Pularam então em quatro direções diferentes disparando tudo o que tinham, a exceção de Kar que armou o eletrochoque de seu machado, mas nenhuma bala surtou efeito na pesada couraça enquanto a criatura simplesmente saltava do chão e despencava pesadamente contra o teto enquanto suas mandíbulas giravam com tanta rapidez que simplesmente que uma torrente de vento adentrou seu estômago e atiçando o fogo criando uma chama ai da mais intensa e um som ainda mais forte e tenebroso.
       Saíram gritando e tropeçando nas sombras tendo como única fonte de luz disponível as chamas do próprio daroc que passou a imediatamente passou a seguir Bouc, que estava mais próximo, este, por sua vez, pulou por sobre uma das prateleiras e de lá se arremessou ao chão onde caiu de cabeça contra o sólido chão de pedra. Seguindo apenas o som (uma vez que não tinha olhos) o daroc saltou para o chão novamente mas foi então que Ox, saltando das sombras, se arremessou contra a fera tentando cravar sua baioneta em sua pele dura, mas não conseguiu., simplesmente desviando a sua trajetória alguns metros a direita de Bouc, que agora tentava se levantar. Novamente de pé, Ox viu o daroc já prestes a aspirar Bouc para si quando, ainda desorientado e sangrando da queda, Ox lançou seu próprio rifle na boca da fera, travando suas mandíbulas, que giravam como uma macabra de cilindro feito de lâminas. Aproveitando os poucos segundos que tinham para levantar Bouc e ambos começaram a desesperadamente cá pensar em qualquer direção. Foi então que ouviram a voz de Kar a alguns metros de si:
 --A lanterna! Onde está a lanterna!
 --Esqueça a lanterna! Temos que sair daqui!
 --Você não entende!
 --Dane-se!
     E ambos adentraram uma sombra e desapareceram. Vendo que também só lhe restavam alguns segundos, saltou sobre uma das paredes e de lá correu até o teto na tentativa frustrada de encontrar sua lanterna movida a gás. Quando viu que o darocs já havia retirado  o rifle, ou pelo menos o que sobrou, congelou, sabia que não fazia diferença ficar ou não nas sombras, mas o silêncio era fundamental, ficou a observar o bicho contornando os corredores que as várias estantes de livros formavam, havia invertido a direção suas mandíbulas de aspirar para soprar e Kar percebeu isso. Tentava se aproximar lentamente do local onde estavam estraindo tudo que podia da parca luz que recebia na tentativa de não esbarrar ou causar nenhum barulho. Estava quase chegando lá quando, de súbito, a luz parou, o dorac havia caminhado para trás de uma prateleira lotada e toda sua luz estava bloqueada. Tentou manter-se calmo, percorrendo o curto trajeto entre si e as mochilas o mais rápido que podia. Com o seu coração na boca, apalpou as poucas sacolas que ali estavam, a primeira era dos suprimentos do grupo de Ox, colocoua imediatamente nas costas (a ideia não lhe agradava mas sempre soubera que poderia enfrentar essa situação). A segunda sacola, agora com as mãos ensopadas de suor, era uma das sacolas de livrosm também a colocou nas costas. Por fim, veio a terceira, era sua sacola, reconheceu seus cadernos e seu material, com dificuldade, encontrou sua lanterna mas, com o pânico, deixou-a cair. O som imediatamente provocou um efeito sobre a fonte de luz, qur saiu de trás das prateleiras e começou a lentamente se dirigir para Kar, como se aguardasse uma confirmação, Kar viu aquilo e com toda a coragem qje conseguiu juntar, aguardou com um horror crescente, a aproximação da besta. Queria que ela se aproximasse ao máximo dele para poder lancar sua lanterna (cujo resultado seria mais que óbvio).
      Já estavam a poucos metrosnum do outro com a distância reduzindo-se a uma razão lenta porêm constante. A distância era quase ideal:
 --Só mais um pouco...
       Quando derrepente ouviu-se o som de alguém derrapando no chão. Viu então Jak, que se mantivera por toda a luta o mais calado que pode, de bruços no chão entrando em pânico. O dorac reagiu imediatamente saltando corredor adentro enquanto Jak descarregava sem sucesso seu rifle antes de, em desespero, saltar pela janela, numa última tentativa desesperada tentou se atirar pela janela, mas não adiantou, pois naquele momento o dorac disparou uma torrente de chamas que consumiu não só a janela mas o próprio Jak que foi reduzido a um pouco mais do que carvão e imediatamente sugado pela besta.
       Com uma fúria demoníaca, Kar simplesmente correu pela teto e com aoenas um toque na parede saltou para o chão e de la através da janela chamando assim a atenção do dorac, que estava aspirando o carvão de Jak. Lançou então a lanterna, cujo gás, a alta temperatura,  simplesmente se expandiram quebrando seu invólucro e explodindo, ao reagir com o O2, expalhando as chamas e reduzindo o dorac a uma incomtrolável e inconstante massa viva de fogo e agonia que corria sem parar. Uma vez nesse estado, o dorac correu pelo jardim e de la se chocou contra a parede e quebrando-a e depois irrompendo frenética e assustadoramente pelos salões da biblioteca incendiando todos os livros e por fim a própria estrutura do prédio em si. Utilizando a nova fonte de luz, Kar se guiou por entre as estantes, olhando pela primeira e última vez a beleza do edifício, e irrompeu pela porta principal da estrutura.
      Uma vez a uma distância segura do prédio, Kar simplesmente se pôs a se apoiar numa pedra e observou o prédio todo se tornar um profusão de fumaça e luz. Sentado ali não fez nada, não pensou em nada nem disse nada, ficou apenas sentado olhando o fogo queimar. Teria permanecido assim por um longo período de tempo se um algo não tivesse encostado em seu ombro. Reagiu violentamente pegando seu machado e fazendo o golpe para decepar fosse o que fosse até parar a alguns centímetros da garganta de Ox que acompanhado de Bouc, se alegraram brevemente em ver Kar ainda vivo e responderam:
 --Onde está Jak?
       Kar não respondeu nada. Ox cambaleou, seu sorriso se desfez assim como o de Bouc e todos ficaram alguns momentos calados:. Por fim perguntou:
 --E o mapa?
      Ele pegou então a sacola de livros e deu-a para Ox que rapidamente a destrinchou até encontrar o Atlas. Tendo isso em mão disse secamente:
 --Você vai ficar ou vêem conosco?
       Fizeram-se mais alguns instantes de silêncio antes que Kar, finalmente se levanta-se. Uma vez de pé, se aproximou da estrutura, que agora ardia infernalmente e entrou pela porta da frente, alguns instantes depois saiu com uma tora flamejante, voltou para onde estava antes e disse:
 --Já achei uma lanterna nova... Vamos?
        E assim, os três viajantes guiados pela luz da agonia final da Grande Biblioteca de Grinard, marcharam por entre as sombras de volta para sua terra natal.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Capítulo 1: Introdução

     Em meio a escuridão da Noite, a parca luz de uma vela iluminava o livro de um já exausto leitor. Já fazia dias que se esgueirava por aquele território e desde que chegara ao seu objetivo não havia conseguido dormir um segundo sequer o que agora começava a cobrar seu preço, como seus olhos cansados e sonolentos já deixavam transpassar:
--Então, após exaustivas tentativas...-- lia ele--... foi possível constatar que há uma quantidade finita de informação que se pode inse...inserir num só espaço, ou seja, a quantidade deeee...deeee.... informação que você pode colocar numa só região ééé limitada. Isso.....
      Foi então que suas pálpebras fecharam e sua cabeça despencou sobre a mesa, onde permaneceu por alguns instantes, só sendo despertado quando um pouco da cera da vela pingou do prato  queimando sua pele. Ergueu o rosto da mesa, ficou em pé e pensou:
--Ok,Ok... Acho que podemos continuar outra hora..... Vamos tomar algo quente...
      Se afastou então da mesa empoeirada e abarrotada de livros em que ele e a vela estavam, atravessou o igualmente empoeirado cômodo cuja as paredes, a exceção daquela onde estava a janela, estavam cobertas por prateleiras e mais prateleiras de livros amarelados. Num canto, estava a mesa e uns dois metros a sua esquerda estava a mochila de Kar (nosso leitor), uma grande bolsa em que carregava um pouco de tudo que precisava. Enquanto estava de pé podia se ter uma boa imagem de sua pessoa, era ele um borac, uma criatura de um metro e meio, magro, de pele verde e escamosa com um rosto levemente similar ao de um réptil com dois pequenos chifres saindo da parte de trás de sua cabeça, devido ao frio do lugar, trajava o seu costumeiro casaco sobretudo pesado encima de seu outro casaco mais leve, complementado por suas calças marrons, botas escuras e um gorro preto com dois furos (para os chifres). Carregava com sigo um machado e alguns lápis.
     Estava tranquilamente mechendo em suas coisas quando uma sombra se formou na parede, com um movimento rápido puxou seu machado mas antes de qualquer coisa se deparou com o cano de um dos três rifles que apontavam para ele a alguns centímetros de sua face. 
      Paralisou-se e aguardou, a sua frente Kar contabilizou três outros indivíduos, todos boracs: ”Ainda bem... --pensou ele--... de tudo que há por aí esse é o menos pior”. Os três se vestiam de maneira similar ao próprio Kar, a exceção do fato de que seus casacos eram mais escuros e em suas faces usavam panos numa tentativa patética de esconder o rosto. Ao observar isso, rapidamente pôs-se a questionar o quão hábeis eram estes três assaltantes, mas foi o longo silêncio que se estabeleceu-se em seguida que confirmou suas suspeitas, como se não soubessem o que dizer, os três ficavam pateticamente apontado suas armas na sua direção até que por fim decidiu ele mesmo romper com a patética situação:
--Então?...
--Então o que?--respondeu aquele que parecia ser o líder do grupo
-- Então... Vocês vão dizer algo ou vamos ficar nos olhando aqui para sempre?
--Ah!... Eh.... Você é um Saqueador Negro?--dizia o borac com alguma dificuldade se referindo a um grupo de ladrões que costumava agir naquelas áreas 
--Se eu fosse eu não diria não é mesmo?--respondeu Kar que perdia cada vez mais o respeito por eles 
--Eu te disse isso Ox!--respondeu um dos boracs se dirigindo ao líder
--Cala boca! Não diga meu nome na frente dele!
--Ele tem razão Bouc.
--Cale-se você também Jak... Ah!!! Valeu! Agora ele sabe o nome de todos nós!
--Não é culpa minha!--disse Bouc
 --Ah! Só calem-se! Calem as suas malditas bocas enquanto eu penso em algo para...
     Não pode completar a frase pois naquele momento Kar aplicou uma machadada na arma de Ox, que disparou contra a janela, e seguiu com um chute na boca do estômago o arremessou contra Bouc, que também caiu ao chão. Jak disparou, mas errou, tentou então usar a baioneta mas Kar simplesmente desviou dela girando com o corpo e acertou a cabeça dele com a haste do machado onde dois pinos demetal condutor conectados a uma bateria aplicaram um breve e potente choque que o levou a nocaute. Com um rápido movimento Kar se apossou então de sua arma, recarregou-a e apontou para Bouc que ainda não havia conseguido sequer se levantar. Com o machado e a arma na mão disse triunfalmente:
--Então, novatos, eu faço as perguntas aqui!
     Ox, que tentava esconder sua vergonha enquanto se levantava só pode dizer:
--Podíamos ter feito melhor do que isso.
--Eu te disse que devíamos ter atirado nele de uma vez!--proclamou Bouc com certa raiva enquanto largava a arma.
--Devíamos ter mandado ele largar o machado--aludiu Jak
--Não enche!... Vamos Jak! Se levante!
       Jak ainda estava um pouco zonzo e tinha dificuldade de se levantar, o lenço que cobria su a face já estava caído a alguma distância dele revelando seu rosto, de réptil com a diferença que, na região próxima do olho, se via uma mancha vermelha escura que o distinguia dos demais. Kar, que já estava ficando sem paciência, apenas disse:
--Tenho mais o que fazer! Se levantem logo! E tirem esses lenços ridículos da cara! Isso não serve de nada!
--Olha só não atire em nós!-- exclamou Bouc com certo ar de desespero-- Nós não temos nenhum problema com os saqueadores! Só queríamos...
 --Não sou um saqueador.
 --O que?-- Disse então Ox que já havia retirado sua “máscara” revelando um rosto mais largo e de um verde claro-- Então por que está nos atacando?
--Por que estavam apontando armas para mim?
--..... Touchet...
     A hipótese de Kar estava correta, eram jovens, no máximo 20 ou 22 anos, que óbviamente não tinha a menor ideia do que estavam fazendo ali: 
--Me digam, porque eu não prestei atenção quando vocês estavam falando, qual o nome de vocês?
--Eu sou Ox, ele é Bouc e este é o Jak.... Viemos de Riacho Negro...
--...Vocês são soldados?
--O que?
--O capacete que você usa!--disse Kar apontando para Ox-- É um capacete militar, não de um mineiro ou de um operário, é militar. Vocês são de alguma expedição militar?
-- Óbvio que não! Isso é proibido! 
--Eu sei que é proíbido! Mas não quer dizer que não podia ser isso!.... O que estão fazendo aqui? São mercenários?
--Nos somos... Catadores! Viemos coletar alguma relíquia de valor para vender.--disse ele fingindo o melhor que podia
--Entendi--disse Kar fingindo que acreditava-- Bem, eu não sou egoísta nem nada, então acho que podem ficar por aqui...--devolveu então o rifle de Jak--.... será bom ter compania
      Os três boracs se entreolharam um tanto confusos enquanto Kar olhou para eles com certa curiosidade:
--Onde estão suas coisas?--perguntou Kar se sentando calmamente na sua cadeira enquanto a inclinava para se apoiar com as costas na parede
--Estão na entrada do prédio... Por que?--perguntou Jak
--Tragam para cá... É a parte mais segura da biblioteca. A janela dá para um jardim interno e já dei uma olhada lá...Nada demais... 
--Nós gostamos do nosso acampamento onde está se quiser saber!--disse Ox com certa autoridade
--Então aproveitem os ogs, eles varrem essas regiões guiando os darogs pela escuridão... 
     Bouc arregalou os olhos, Ox ficou nervoso e Jak disse: 
--O que é um darog?
     Os outros dois então olharam para ele com raiva então se voltaram para Kar que calmamente os encarava com certo cinismo. Um pouco mais de meia hora depois já estavam tentando acertar todas as suas coisas dentro do pequeno cômodo enquanto ele os observava com certa curiosidade, óbviamente não eram catadores ou caçadores de relíquias, o que exatamentem não sabia dizer, mas não era essa sua preoupação principal. Olhava ansiosamente para seu relógio onde marcavam 7:38 :
--Vamos! Vamos! Só temos mais 20 minutos antes que eles comecem a acordar!
-- Já terminamos! Já terminamos!--exclamou Bouc 
--Então tranquem a porta!
     Fecaharam a pesada porta de madeira e passaram o ferrolho as preças. Depois disso, quando se viraram, viram Kar levantando um tecido e o usando para cobrir toda a janela. Feito isso, apagou a vela e acendeu imediatamente uma lanterna muito mais potente que iluminou o quarto de maneira mais adequada uma vez colocada sobre a mesa. Feito isso, pegou novamente sua mochila e tirou dela um pequeno pão de niz (uma fruta típica de sua terra natal) e uma fatia de dur (idem) , sentou-se então no chão e pôs-se a observa-los enquanto comia. Pelo que tinha visto até aquele momento, Ox era provavelmente o líder, usava um casaco mais longo que os dos outros dois e era o mais baixo, Jak era mais alto que Ox e mais baixo que Bouc e tinha um jeito um pouco abobado enquanto Bouc, com sua mancha preta na face esquerda, parecia ser, ou ao menos fingia ser, mais “intelectual” sempre tentando manter sua cabeça acima das dos outros e falando de maneira rebuscada, de fato nenhum dos três paravam de falar, sempre se entreolhando e falando de como precisavam logo encontrar algo para vender antes que ficassem sem suprimentos e de como eles haviam investido demais naquela viajem para simplesmente voltar sem nada dentre outras coisas que conseguiu apreender. Uma dessas outras coisas, através do jeito de falar, era que, sem dúvida, eles não eram de Riacho Negro, já havia estado lá antes e o sotaque era muito diferente, mas decidiu não se importar. Foi quando o grupo se calou momentâneamente e Ox se voltou para Kar dizendo:
--Me diga... Quem é você?
        Olhou então o relógio:
--Hahaha! Só levou meia hora para você conseguir pensar nisso não é?... Meus parabéns! Eu já estava começando a pensar que ia demorar muito mais. Hehehe
--Responda a maldita pergunta!--disse Ox tendo que aturar as risadas dos outros dois também
--Meu nome é Kar.... Sou de Gaul.
--O que faz aqui?
--Sou um explorador.... Estou procurando esta biblioteca a quase um ano e a encontrei a alguns dias...
--Então isso aqui é uma biblioteca?--perguntou Jak
      Em resposta aquela pergunta Ox e Bouc apenas suspiraram como se aquela fosse apenas uma de uma série de outras do mesmo gênero. Jak, por sua vez, se sentiu extremamente ofendido, afinal, não é só por que um prédio tem vastos salões com estantes cheias de livros, armazéns lotados de livros e prensas para fabricar livros que isto o faz uma biblioteca não é mesmo?
--Me diga Jak! O que mais poderia ser?--perguntou Bouc
--Uma livraria
--Bem...Isso.. Bem isso faz algum sentido mas...
--Mas..-- disse Ox interrompento os outros dois--... Essa aqui é qual biblioteca?
--A Biblioteca De Grinard, aquela cidade fantasma pela qual vocês passaram para chegar aqui se quiserem saber.
--E por que veio para cá?
--Em parte porque os livros dessa biblioteca tem milhares de anos e apesar de a maioria já estar estragada a séculos os poucos que sobraram valem muito... Mas principalmente porque os Grinard foram muito mais avançados do que nós jamais fomos, existiram por milênios, blábláblá.... e achei que poderia aprender muito com seus livros...
--Você trabalha para alguma universidade?
--Não... --Ox notou certo amargor nessas palavras--... Sou um freelancer mesmo. Mas me digam, porque três catadores viriam tão distante no meio da Noite para encontrar algumas relíquias?
--Bem... Nós.... É que queríamos encontrar algo bem valioso.
--Então entraram numa região desolada sem sequer saber o que os esperava?... Burrice ou ganância?
--Acredito que um pouco dos dois.--respondeu prontamente Jak para constrangimento do outros dois
--Bem.... Vocês ao menos tem provisões não é? Afinal, eu não sou muito favorável a essas ideias recentes de divisão de posses e tudo mais.
--Não se preoucupe, ainda temos o suficiente.... Mas me diga, esses Grinard, quem eles...
      Foi então que a conversa foi interrompida pelo barulho de algo grande que caminhava do lado de fora. Todos congelaram e Kar imediatamente apagou a lanterna deixando a escuridão tomar o lugar. A pesada respiração do quer que fosse que estivesse se mechendo do lado de fora podia ser ouvida tão claramente quanto os seus próprios pensamentos, o calor invadia o comodo como uma chama a consumir seu propelente enquanto o hálito pútrido e infecsioso tomava suas mentes com incontáveis imagens de tormento e final. Congelados estavam e congelados permaneceram enquanto a respiração barulhenta da criatura não se afastasse, era um darog, ao fundo, podia se ouvir alguns ogs, carniceiros que os acompanham onde quer que estejam.
      Quando o perigo parecia distante Kar reacendeu a lanterna apenas para encarar os rostos horrorizados dos três “catadores” com quem estava. Kar não era jovem como eles, pelo contrário, tinha mais de 50 anos, mas já havia se defrontado com muitas daquelas situações ao longo daqueles anos em que explorava a Noite e já há muito se acostumara com aquilo, mas os outros três ainda estavam petrificados com aquilo que provavelmente era o primeiro encontro deles com uma daquelas criaturas. Por fim, Kar disse:
--Bem, depois você me pergunta! Acho que agora o melhor mesmo é dormir! Nos vemos em 12 horas....
--É quando eles param de caçar?
--Não, isso demora mais 15 horas.... Mas vai ser tempo o suficiente para eu me recuperar... Há dias não descanso.... Durmam bem!
     Desligou a lanterna e dormiu como uma pedra enquanto os outros ficaram ainda ainda algumas horas em pânico e rezando com todas as suas forças para que Aquele bicho não voltasse de jeito nenhum até que por fim não se aguentaram e dormiram. 
      Na manhã seguinte o dia amanhecia como sempre, escuro, e é por isso que chamam aquele território de “Noite”.Quando Ox acordou viu que a porta do quarto estava aberta e que por ela uma intensa luz entrava, olhando para o lado, viu que nem Kar nem a lanterna estavam ali, o resto não foi difícil de concluir.
      Botou na boca um pão de niz, empunhou seu rifle e saiu para ver Kar. Pela porta deu então com um dos salões da biblioteca que ele e seus colegas haviam passado o dia anterior explorando na tentativa de encontrar algo de valor:
--O suficiente para pagar os custos da viajem...--dizia para si mesmo enquanto lembrava-se dos livros que encontraram no dia anterior--... Mas não o suficiente para o que queremos...
       Naquele momento, percebeu que a luz ao seu redor não vinha de uma das mesas ou mesmo de uma das prateleiras que o cercavam, mas de cima, olhando para o teto viu Kar numa mesa de cabeça para baixo analisando um livro:
--Então você esta aí?--perguntou ele
--Sim estou--disse Kar demasiadamente compenetrado na sua leitura para dar-lhe alguma atenção
--Posso subir?
--Técnicamente, da minha perspectiva você vai estar descendo, mas tudo bem... Você queria fazer uma pergunta não queria?
--Sim... Espero só um pouco.
      Avançou então para uma escada em arco que permitia que qualquer um no chão chegasse ao teto, uns 10 metros acima (ou abaixo debendendo da sua perspectiva). As escadas em arco, nada mas são do que escadas comuns porem torcidas de maneira que a cada final delas terminem em planos paralelos um ao outro enquanto os degraus variam de ângulo pouco a pouco. Uma vez no teto e de cabeça para baixo, se aproximou de Kar, que logo fechou o seu livro e ficou a encará-lo aguardando a pergunta:
--Bem... Ah.... Eu queria saber sobre.... Sobre esse lugar...
--Está falando da Biblioteca?
--Não... Não... Estou falando de Grinard... É que não há muita informação sobre eles lá em.... Riacho Negro
--Veio pegar as coisas de um país devastado e assolado por monstros do qual não sabe nada?
--.... GANÂNCIA
--Hahaha!.... Tudo bem, tudo bem. Escute! Você sabe o que é Cosmos, não sabe? 
--Claro que sei! É de onde viemos! É onde nossas cidades e nossos países estão!
--Exato! E ao redor, alêm das montanhas que cercam todos os países que você e eu conhecemos existe a Noite! Uma vasta escuridão de trevas e Caos, literalmente..... Bem, você leu o Livro da Criação não é?
--Todos nós lemos! Todos tem que ler!--sua voz ganhou certá irritação ao responder a pergunta-- Mas o que isso tem a ver com Grinard?
--Acalme-se! Acalme-se! Já chego lá! Bem você se lembra sobre a estória da criação? Como os Lordes criaram o universo e blábláblá...
--Sim é claro... Conheço todos os blás e blás dessa história... Continue
--Bem.... Na época da criação, havia outros lugares alêm do Cosmos, outros reinos concedidos a outras espécies, como os durnas, os Karks, os trios dentre muitos, muitos outros, tudo isso muito tempo antes de nossa espécie existir... Os mais antigos e poderosos de todos eram os Grinard, eles eram maiores do que nós...
--Quanto?
--Uns 3 metros mais altos... Eles acumularam muitos, muitos conhecimentos sobre o universo e construíram algumas das mais poderosas armas que já foram vistas, criaram um verdadeiro império, alguns dizem que eles até tinham máquinas que pensavam por si mesmas e que eles nem sequer precisavam trabalhar por si mesmos... Mas aí... Veio a Guerra dos Traidores... E por fim, tudo foi por água abaixo
--Hum....Que deprimente
--É...Terminar em fogo e trevas é realmente algo trágico--disse Kar
--Na verdade não é a isso que eu me referia
--Então era a que?
--É triste que após milênios de conquistas e glória, a história deles possa ser resumida num parágrafo que quase não oferece informação nenhuma sobre eles....
--Bem, se você quiser saber mais...--mexeu então em sua sacola e tirou dela um livro-- ... Aqui está! “A História de Grinard, por Ran Thoros e comentado por Hag Dan”
       Ox agarrou o livro com transbordando fascinação, sempre quisera saber mais sobre as Naçôes do passado e ali estava um resumo prático e rápido de tudo:
--Puxa! Comentado por Hag Dan!
--Conhece Hag Dan?
--Não., mas se pediram os comentários dele é porque devem valer alguma coisa, não é!?
       Ambos riram um pouco. Kar sabia que em breve teria que voltar para o Cosmos, pensou então em algumas coisas, fez algumas contas rápidas e disse para Ox:
--Você e seus amigos estão aqui para catar algo de valor para vender no Cosmos não é isso?
--Sim....--disse Ox um pouco desanimado 
--Bem por que vocês não tentam pegar alguns destes livros? São relíquias raras e devem valer alguma coisa...
 --Pegamos muitos deles... Temos uma sacola cheia deles diga-se de passagem... Mas não sabemos quais deles valem alguma coisa ou não.... 
--Se valem algo ou não?-- A indignação era latente nessa pergunta
--Por causa da restauração sabe?... Alguns valem a pena restaurar, outros não.... Alguns são especiais, outros sagrados...
--Ah... Sim...Restauração.... Que tal uma oferta?
--Uma oferta?
--Passei muito tempo estudando e caçando esses livros... Conheço-os bem, mas preciso de alguém para me ajudar a carregá-los para casa... Se quiserem, podemos partilhar tudo... Eu digo quais valem alguma coisa e quais não e vocês carregam por mim...
--Você conhece essas regiões?
--Ando por aqui a anos!.... Tenho meus próprios mapas...--dizendo isso mexeu em sua sacola e pegou um pão de niz e começou a mastigá-lo enquanto Ox analizava o que acabara de ouvir
--Mapas?!.... Da Noite?! ....Impossível! Não há como converter um terreno tridi...tridi,..tridimensional para um plano! Lá fora é como se fosse o interior de uma esponja!
--Eu sei! Eu sei! Vê aqui?-- disse ele apontando para uma cicatriz pouco visível na parte posterior de sua cabeça-- Não sabe quantas vezes eu estava andando tranquilamente numa direção e simplesmente fui arremessado em outra por causa de um maldito poço de gravidade!... Mas... Com o tempo, aprendi não só andar por aí, mas até mesmo a como montar meus próprios mapas... Que ver um?
--É claro!
    Sacou então de sua mochila um pequenino pedaço de papel onde os contornos nada graciosos da Noite se somavam a uma infinidade de legendas, anotações e símbolos que cujo o significado apenas o próprio Kar conhecia. Ox analisou o mapa atentamente, revirando-o e tentando ao máximo compreender os estranhos símbolos espalhados por ele:
--O que esses símbolos querem dizer?
--....Isso é a minha letra...
--Ah...
      Enquanto nossos personagens se entretem brevemente com o mapa, faz-se necessário uma breve pausa para explicar o que são  a Noite e o Cosmos, o que tentarei fazer da maneira mais breve possível... --Do autor: Viu? Eu disse que era só ter um pouco de paciência!--...no seguinte parágrafo:
      No centro de tudo (não pergunte o que eu quero dizer com “tudo” só leia e aceite) existe o Cosmos, uma terra cercada por montanhas absurdamente altas, lar dos boracs e suas cidades (das quais falaremos depois). Aos olhos do leitor, seria um lugar aparentemente comum com todas as leis da física e matemática que você já está cansado de conhecer, com um Sol, uma Lua e tudo mais. Porêm, a Noite, é muito diferente... Assim como Ox descreveu, a Noite, nada mais é do que um complexo conjunto de cavernas colossais (algumas com o tamanho de nações inteiras) se expandindo em várias direções, tudo isso mergulhado em profunda escuridão, já que a luz do Sol não alcança tal território, permitindo que toda espécie de caçador se esconda lá. Mas esse não é o pior problema dessa região, acontece que, quanto mais você se afasta do Cosmos (e mais adentra a Noite) as próprias leis da natureza começam a se alterar, começando até mesmo a falhar e desaparecer, como resultado, a gravidade passa a se tornar extremamente maleável se alterando de acordo com uma série de poços de gravidade espalhados pela região... (Se não entendeu exatamente o que eu quero dizer vide “Relatividade” de M. C. Esher). Voltando a estória... 
     Tendo terminado de analizar o mapa minuciosamente o mapa, Ox disse:
--Eu não tenho a menor ideia do que está escrito aqui.
--Eu já imaginava... Meus professores me ensinaram a sempre usar uma letra que só eu conseguisse entender para evitar que minhas coisas fossem roubadas... Mas o fato de você não conseguir entender me é muito bom!
--Por que?
--Porque mostra que você e seus amigos precisam de mim e daí que podem aceitar MINHAS condições e MINHAS ofertas! Então, o que acha?
       Ox refletiu um pouco indeciso. Sabia que este tipo de trato não tinha nenhuma validade legal então não teria problema quebrá-lo em caso de necessidade (de fato, nada que eles estavam fazendo ali era legal, mas isso eu explico outra hora). Por outro lado, não sabia nada sobre esse sujeito e num país distante, envolto em trevas e habitado por monstros não seria difícil esconder três corpos, mas seria ainda menos difícil esconder um corpo só, mesmo que o cadáver fosse o único que soubesse como saí de lá. Por fim disse:
--Vou falar pros outros dois que temos que trabalhar!--disse ele rindo 
--Que bom que aceitou a oferta! Já a tempos procurava alguma ajuda...--disse ele apertando a mão do outro--.. Mas antes, me deixe fazer uma pergunta: Desse tempo todo que você ficou pensando, quanto você gastou pensando em me matar e quanto no caso de eu matar vocês?
--Eh....
--Hahaha!....Vá logo falar com seus amigos!
--Ah...Ok...--e saiu
        Kar ficou olhando ele indo embora com o um sorriso no rosto, era ele bem mais velho que os outros três, embora fosse mais alto e não tinha muita paciência com jovens, na verdade quase se enervava sempre que estes lhe vinha “atasanar as ideias” como ele gostava de dizer, mas simpatizava com estes três, talvez porquê fossem engraçados, ou talvez porquê fossem as primeiras pessoas que via em mais de um ano de exploração, mas simpatizava com eles, o que mesmo sem ele ter ideia disso, seria de grande auxílio e tormento no seu futuro próximo.

Apresentação

Olá, meu nome é João e no próximo ano eu vou postar aqui o meu livro: A Máquina do Mundo.

Como funciona: Toda as segundas eu vou postar um capítulo novo e pretendo que o livro tenha algo em torne de 45 a 50 deles, cada um tendo em média de 15 a 25 páginas, freetoread. No final do ano, eu quero enviar o livro para alguma editora e para isso eu preciso da ajuda de vocês, não apenas compartilhe o blog, mas comentem, critiquem, eu agradeço, tudo isso pode ser usado como argumento para ajudar a encontrar uma boa editora e quando isso ocorrer vocês poderão ter um bom livro em suas casas, assim espero

Sinopse: Num mundo onde nem as Leis da Natureza escaparam a violência da guerra, um pequeno grupo de exploradores se lança numa terra infernal em busca de dinheiro, conhecimento e poder enquanto as máquinas da guerra começam novamente a ranger. Nascidos da luta, não há sacrifício que os boracs não façam em nome de sua nação, de seus criadores e do que acreditam ser certo enquanto cegamente são conduzidos por forças mais antigas, sábias e nem tão benevolentes quanto eles gostariam de acreditar. 

Sobre mim: Sou um escritor, fim